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Portugal é o país onde o único Prémio Nobel da Literatura escreveu fantástico e ficção científica, onde a lenda mais famosa é de um galo zombie e onde um poeta inventou um sistema mágico. É a nação onde todas as terras têm a sua lenda, onde os reis ansiavam por novas do reino de Preste João e onde sobrevivem tradições que, ao fim ao cabo, são rituais mágicos.
É neste rectângulo, à beira-mar plantado, que se fazem experiências científicas únicas no mundo e onde se investigam saberes considerados imorais em muitos países. Com todos estes marcos, que são apenas o topo da lista, é de estranhar haver tão pouca literatura especulativa genuinamente portuguesa.
O que queremos dizer com literatura especulativa genuinamente portuguesa? Estamos a falar de histórias que bebam directamente da cultura em que estamos tão bem enraizados. Basta conviverem com pessoas de outros países e rapidamente notarão que, mesmo dentro da Europa, temos diferenças espectaculares. Estamos a falar de histórias que não se limitem a decorrer em Portugal, mas que o cenário esteja vivo de tal modo que seria impossível trocar o nome da cidade por outro estrangeiro sem que pareça fora do contexto.
Vivemos numa era globalizada, é claro, mas tal não significa que tenhamos de perder a nossa identidade. Há que a celebrar! Mestiçá-la com as outras! Afinal, “Deus inventou o branco e o preto e o Português o mulato”.
Com tudo isto e muito mais, surgiu a Lusitânia, a publicação de contos de literatura especulativa (fantástico, ficção científica, terror, new weird, etc.) cujo único ponto em comum é usarem como matéria-prima a cultura portuguesa.
Queremos vampiros fadistas, lobisomens a seguir levadas, autómatos a tomar consciência de si no isolamento de um monte alentejano, personagens inquietantes na aldeia de Monsanto, magos na Regaleira e clones numa base secreta no Gerês. Há que pôr os heróis a comer sardinhas no final da aventura, a oferecerem pancadinhas de alho-porro às suas amadas. Falem-nos dos cavaleiros medievais e dos milagres e horrores que estes testemunharam, contem-nos a travessia da fronteira de contrabandistas do Estado Novo, a verdadeira razão da fuga para o Brasil.
Histórias com estes elementos inseridos a martelo irão ser corridas com o mesmo instrumento.
Há tanta coisa por explorar… Queremos surpreender e ser surpreendidos!
Esperamos que gostem deste projecto.